Há pouco mais de um ano o mundo começava a experimentar os efeitos da pandemia do novo coronavírus. No dia 02 de junho de 2020, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou uma lista contendo 133 pesquisas de imunizantes contra a COVID-19. Segundo este mesmo documento, dentre essas pesquisas, apenas 10 estavam em estado avançado (fase de testes clínicos em humanos). Hoje, após um ano da corrida em busca de uma vacina contra o novo coronavírus (SARS-CoV-2), já temos fortes candidatas a cruzarem a linha de chegada.
Que tal entendermos o caminho que é percorrido até o lançamento de uma vacina? Pesquisa pré-clínica – Esta pesquisa deve acontecer antes dos testes em seres humanos. Entender como os patógenos agridem o organismo do hospedeiro e buscar por possíveis alvos do sistema imunológico (antígenos) são os principais objetivos desta pesquisa. Até que o corpo de conhecimento seja sólido o suficiente, esta pesquisa pode vir a demorar anos para ser concluída. Pesquisa clínica (Fase 1) – Nesta etapa e na etapa seguinte muitas candidatas falham. Pois, o teste é feito com dezenas de seres humanos saudáveis e o objetivo é verificar se o medicamento é seguro e não causa efeitos colaterais. Pesquisa clínica (Fase 2) – Diferentemente da “Fase 1” a “Fase 2” é realizada com centenas de voluntários. Esta etapa do processo objetiva saber se o medicamento é seguro e se há a probabilidade de funcionar. Ou seja, no caso de uma vacina, o ideal é que sejam gerados os tão sonhados anticorpos contra o patógeno. Mas, não é somente isso! Neste caso, ainda resta saber se os anticorpos gerados de fato imunizam. Pesquisa clínica (Fase 3) – Nesta fase, baseando-se nos resultados de segurança do medicamento em estudo e sua possível imunogenicidade, milhares de voluntários são vacinados com a droga em estudo e outros milhares de voluntários recebem placebo. Placebo nada mais é que, uma injeção que não contém o imunizante estudado. Dessa forma, é possível quantificar o potencial de imunização do candidato a vacina. Nesse momento, vocês devem estar se perguntando como conseguimos então desenvolver estas vacinas tão rapidamente, não é mesmo?! Normalmente, o processo pode levar em torno de 5 anos. Mas, como farmacêutico, defendo que o desenvolvimento da vacina contra o novo coronavírus em tempo recorde não afeta a segurança das fórmulas. Vou explicar o motivo agora mesmo. O próprio nome do novo coronavírus“ SARS-CoV-2” nos dá a entender que já existem outros coronavírus que causam síndromes respiratórias. Por exemplo, no ano de 2003, foi identificado o vírus SARS-CoV, causador da Síndrome Respiratória aguda Grave. Em 2012, foi identificado o MERS-CoV, causador da Síndrome Respiratória do Oriente Médio. Para estes dois coronavírus já se tentou desenvolver vacinas, porém por ficarem localizados geograficamente, ficaram muito restritos e rapidamente o número de casos diminuiu. Mas, a estrutura destes vírus é extremamente semelhante a do novo coronavírus. Ou seja, os pesquisadores já conheciam a estrutura do vírus.
Braiton Meireles de Freitas CRF-DF: 3703 – Farmacêutico Generalista, Especialista em Farmacologia Clínica e Clínica em Oncologia e Mestrando em Direção Estratégica de Organizações de Saúde.